quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

BALANÇO DO PED

No geral, o resultado do PED não foi muito satisfatório para a esquerda partidária. No plano nacional, a diminuição sucessiva da esquerda nos últimos embates corresponde ao domínio do chamado “campo democrático”, agora recomposto nas suas inúmeras facções de interesse, em torno da defesa intransigente do governo Lula e da candidata Dilma.

A esquerda partidária tem colaborado pouco para chegar a formulações que se contraponham como alternativas políticas ao discurso majoritário da conciliação e que incidam decisivamente sobre a dinâmica partidária. Ao contrário, verifica-se a proliferação de práticas que levam cada vez mais a subordinação do PT à deformação oportunista.

O processo de rebaixamento programático, burocratização e estrelismo, que sempre denunciamos, contamina o conjunto do Partido, inclusive os grupos que se dzem da “esquerda partidária”. O caciquismo escandaloso e desavergonhado descamba para a manipulação, fisiologismo e até compra de votos e de lideranças.

Neste contexto, à esquerda parece estar reservado um papel marginal e meramente referendador de políticas de direita empurradas goela abaixo. E ainda legitimando com um verniz de “esquerda”, enquanto vêm à tona práticas abomináveis. Um programa capaz de unir planificação econômica, democracia e liberdades individuais nem é considerado dentro da pauta dos debates.

O processo de definição das candidaturas no PED, por exemplo, evidencia a inversão na relevância de papéis das lideranças partidárias. Os detentores de cargos públicos, nomes construídos coletivamente pelas bases, não raro com o discurso da participação democrática, sentam-se ao redor de uma mesa e tomam as decisões, repartem o bolo da partilha das benesses e das intimidações. Dali saem para a “contagem dos votos”. Cabem às bases devotas referendarem os acertos e desacertos dos líderes. Não são mais dirigentes e militantes conscientes e sim patrões e empregados.

No Ceará, embora o grupo majoritário da direita partidária tenha se mantido à frente, mesmo que um pouco menor, seu peso na composição das estruturas ainda é decisivo. Esta impressão se reforça pela divisão entre os aliados que lhe contrapunham, embora seus métodos atrasados de disputa tenham se proliferado como regra e não causem surpresa. As lideranças se omitem e se adaptam facilmente aos fins que pretendem justificar os meios e viciam a militância na espiral da troca de favores.

De que projeto político se trata? Não há ou não se mostra, envergonhado de si próprio. A despolitização e a imposição das estruturas financeiras constituídas por quem as controla, para garantir o “estamos juntos” oco e sem forma – ao invés de saída de radicalização das lutas torna-se uma adaptação indefinida ao status quo.

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