quinta-feira, 8 de abril de 2010

I. O Papel Revolucionário da Juventude

A) Concepção de Juventude e Luta de Classes

1. A juventude está sujeita às contradições estruturais que afetam as classes sociais no mundo capitalista. Sua sobrevivência e seu papel histórico sofrem a influência da relação entre capital e trabalho. Se há ou não empregos, se são explorados ou se alienam na lógica da produção e do consumo, não há como escapar a opressão do sistema em que se encontra inserida. Pois a riqueza segue sendo produzida socialmente (aproveitando-se dos recursos naturais disponíveis e pelo esforço coletivo de toda sociedade) mas apropriação dos lucros é privada. Só que os(as) jovens também sofrem opressões específicas: nas escolas e em outros espaços, nas relações familiares e em geral, etc.

2. A luta das classes, no entanto, é a que predomina – é a força motriz e retroalimentadora do capitalismo. Portanto, os problemas da juventude não serão sanados exclusivamente no âmbito da própria juventude, embora se reconheça o potencial da juventude como agente das transformações sociais. Pensar assim não é tomar uma conclusão conformista e sim adotar uma perspectiva de classe, isto é, que a luta da juventude trabalhadora e estudantil é a luta de todos(as) os(as) trabalhadores(as).

3. Para conscientizar e organizar a juventude é bom começar com: O que significa a juventude? Por que é importante organizar a juventude como partidária ou de uma força política? As respostas começam pela não imposição da organização em um único “setor” ou numa “juventude” como algo monolítico, homogêneo, uniforme. O que se percebe é que existem vários modos de “ser jovem”. Há jovens nas diversas classes, com diversos interesses de classe, vivendo realidades sociais, regionais, políticas muito distintas. Estas diversas experiências ou formas de se inserir no mundo produzem uma heterogeneidade muito grande, a ponto de hoje já se falar em “juventudes”.

4. Há jovens favelados, miseráveis catando lixo, imersos no tráfico de drogas, em seitas de fanáticos, em gangues ou grupos para-militares neo-nazistas, “filhinhos-de-papai”, estudantes, operários, comerciários, politizados, atuantes, organizados em igrejas, movimentos sociais ou partidos políticos, etc. A lista seria interminável. Além das diferenças culturais, étnicas, de gêneros, de orientação sexual e por aí vai, existe algo em comum que identifica todo essa massa no conceito de “juventude”. Mas o que a define, além da dimensão meramente cronológica (menos de 30 anos)?

5. A juventude é uma combinação de diversos elementos que delineiam um modo específico de estar no mundo, é um momento propício às experimentações, decisões e escolhas que poderão pautar a afetividade, o ser social e político-ideológico durante o resto da vida. Por este caráter de transitoriedade, ou seja, de passagem entre uma condição de dependência total da família e do grupo social, para inserção na vida social “adulta”, há uma busca de respostas a várias dúvidas e inquietações e uma necessidade de auto-afirmação, que originam conflitos e um sentimento de inadaptação.

6. Tais conflitos são amplificados pela lógica de inserção (ou não) no mundo do trabalho precarizado. Por um sistema de ensino conservador, incapaz de responder às suas demandas e (de)formador de mão-de-obra barata e (mal) qualificada, de “escravos tecnológicos”. Também pela submissão a um mercado consumista que fetichiza produtos, que transforma as relações e as vidas das pessoas em meras mercadorias, que estabelece privilégios e propagandeia desejos ilusórios e descartáveis e padrões de vida restritos ou inalcançáveis, acessíveis apenas a quem pode pagar. Por um mundo, enfim, paradoxal: do consumo “globalizado”, informatizado, automatizado, conectado virtualmente, mas com abismos sociais, analfabetismo, fome, doenças, guerras – seguindo rumo à barbárie e à destruição do planeta.

7. Ao longo da história, a juventude tem protagonizado um papel importante no questionamento às representações culturais e de poder da sociedade burguesa. Por isso, a juventude deve ser uma esfera privilegiada da disputa ideológica e do trabalho político da corrente. É preciso incorporar suas inquietações, linguagens, sensibilidade e suas “lógicas internas” para revitalizar o debate político e o permanente e necessário repensar da práxis. É essencial canalizar seus anseios, o seu potencial questionador, crítico, criativo, num projeto político transformador e numa organização voltada para ação política de massas. Por fim, é fundamental que se possa superar o enfrentamento restrito às suas formas de opressão específicas (na família, na escola, no trabalho, etc.) e abraçar as mais elevadas aspirações e valores das lutas históricas dos socialistas pela emancipação da humanidade: a solidariedade, a democracia, a justiça, a igualdade, a preservação da vida e da Terra.


B) Comunismo e Liberdade

8. O grande desafio para o propósito socialista hoje é como equilibrar duas dimensões: Retomar a sensibilidade utópica no cotidiano da sociabilidade: vencer o medo e despertar o inconsciente coletivo. Ao mesmo tempo, preservar as individualidades, o valor precioso e original que cada ser carrega dentro de si. Numa sintonia maior com o(a) outro(a) buscar os valores socialistas: a solidariedade, o respeito mútuo, o cuidado com a natureza. Materializar a subjetividade no fazer diuturno, vivenciar o prazer e a sexualidade sem castrações, nem degenerações. Praticar a sustentabilidade.

9. Mas, além disso, é necessário um projeto político que incorpore a dialética libertária. O socialismo se constrói para além das relações sociais. Assim como o ser social é que determina a priori a superestrutura ideológica, é preciso também compreender que as relações têm o seu caráter de dominação, o que torna imperativo reinventa-las. A militância comunista é incompatível com o autoritarismo. E o exercício democrático da crítica e da auto-crítica deve ter o objetivo de auxiliar o processo do aprendizado coletivo.

10. A juventude é convidada a ser parte deste processo. A militância da juventude enquanto se forja no estudo, na disciplina e na construção política, traz consigo o sopro da rebeldia, da ousadia e da crítica. Para construir a utopia, no mais alto valor que o conceito pode ter, são necessárias firmeza, obstinação, abertura, etc. Mas, é preciso também muita ternura.


C) A Construção Específica da Juventude

11. Uma das questões básicas e centrais em torno da formulação de um esboço teórico das organizações de juventude estudantil e popular é a compreensão do caráter autogestionário de suas formas organizativas. Isto quer dizer que suas formas de construção revolucionária sintetiza uma conformação binária que envolve: a autonomia da juventude e sua organização enquanto força política.

12. A juventude é protagonista de sua própria construção histórica e lutar para romper com as formas de opressão específica que a cerceiam. Os(as) jovens devem estar cientes que suas lutas e contribuições específicas são relevantes na construção do movimento de massas.

13. Mas é preciso cuidado para se evitar cair em armadilhas. Deve-se evitar o erro de reproduzir a necessidade constante de auto-afirmação. Ou então uma concepção idealizada da construção política no setor (como se a caminhada histórica da classe trabalhadora não tivesse importância). É recomendável uma postura equilibrada e justa, mas sem abrir mão da irreverência e da ousadia.

14. Ao mesmo tempo, uma organização de jovens comunistas se define pelo seu objetivo revolucionário. Mais do que um grupo de interesse ou amizade, a juventude marxista se consolida enquanto força política se seus/suas componentes identificam-se ideologicamente nos propósitos de superação radical da ordem, na práxis revolucionária e de construção socialista.

15. A vigorosa energia da juventude é potencializada mais ainda quando aplicada no estudo para formação de quadros militantes. Ao passo que se formam como intelectuais orgânicos, os(as) jovens vão construindo as suas próprias vivências conscientizadoras e organizativas. É importante o interesse em buscar sempre mais (crescer, conhecer, destacar-se). Não por vaidade e sim por dedicação a uma causa. Mas é preciso também saber respeitar o tempo das coisas.

16. A atuação da juventude não está livre dos erros que afetam os movimentos em geral. Ou dos erros de seu próprio movimento. Muitas vezes se perde em disputas internas que só o enfraquece. Por isso é importante uma boa orientação (mas não tutela), para se evitar deformações. O mais importante é aprender com os próprios erros e não perder o foco no que é essencial.

17. Para desempenhar uma política com relativo grau de autonomia, deve-se objetivamente aprofundar o debate político no interior da organização e do Partido, construir a política de massas e envolver os quadros de direção no processo de realização de eventos e da organização do setor, pautar as demandas nos organismos de direção, e garantir os próprios meios de viabilizar as ações. Quem pauta a política é quem tem iniciativa.

18. Faz-se necessário também aprimorar os mecanismos de comunicação para facilitar o trabalho político. Pela internet pode-se organizar reuniões virtuais, produzir um sítio, manter textos armazenados para consulta, etc. Preparar e fazer circular com regularidade um boletim informativo, com a linguagem adequada e conteúdo relevante. Implementar um programa de formação política sistemático, entre outras iniciativas a serem detalhadas.


D) A Geopolítica Mundial e o Internacionalismo Proletário

19. Os(as) marxistas defendem o direito a autodeterminação dos povos e a luta de massas consciente e organizada da classe trabalhadora, como forma de destruir o capitalismo e suas mazelas e construir um Novo Mundo socialista sobre os seus escombros.

20. Neste sentido, somam-se ao movimento antiglobalização capitalista, que na verdade se constitui num “movimento de movimentos”. Ele agrega centenas de milhares de “inconformados” com o sistema, das mais diversas matizes político-ideológicas em escala planetária: participantes de ONGs, associações, grupos, redes, etc. Esse movimento tem na juventude grande força propulsora.

21. O Fórum Social Mundial é uma referência de articulação desse movimento em torno do lema: “O mundo não é uma mercadoria”. Por meio de manifestações pacíficas (ou nem tanto), criativas e “ações diretas”, desobediência civil, campanhas contra o consumo de determinados produtos ou serviços, etc. constituem uma nova geração política que têm desafiado os “senhores da nova ordem”.

22. A cada reunião de organismos multilaterais (OMC, BID, FMI, Banco Mundial, etc.), em Seattle, Quebec, Buenos Aires, Gênova, Davos, Fortaleza, etc., onde ocorreram as rodadas de negociação ou acordos internacionais, foram criados verdadeiros “estados de sítio” ilegais, o que disseminou protestos em várias partes do mundo. Os sindicatos e partidos políticos de esquerda, com poucas exceções, não conseguem entender e participar deste movimento, o qual também questiona formas de organização verticalizadas e burocratizadas. À Juventude Marxista cabe participar deste movimento e dialogar com essas organizações, para articular lutas na América Latina, e em outros continentes.

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