sábado, 10 de abril de 2010

Manifesto

Segue abaixo, o Manifesto de fundação da Tendência da Revolução Socialista, apreciado na Conferência e no Encontro Nacional da TRS/PT, nos dias 17 e 18/04/2010, em Fortaleza - CE:


MANIFESTO da TENDÊNCIA da REVOLUÇÃO SOCIALISTA

“O desacordo entre o sonho e a realidade nada tem de nocivo se, cada vez que sonha, o homem acredita seriamente em seu sonho, se observa atentamente a vida, compara suas observações com seus castelos no ar e, de uma forma geral, trabalha escrupulosamente para a realização de suas fantasias.”
(Lênin cita Pissarev em “O que fazer?”)

A edificação do Partido dos Trabalhadores deu-se como novidade no cenário do fim da ditadura militar e a retomada histórica da democracia formal no Brasil. Com um programa político de contestação ao status quo, combativo e classista, engajado em amplos movimentos sociais, referenciado numa concepção socialista, popular e democrática, o PT nasceu como instrumento de organização do povo explorado. Sob a bandeira da estrela cresceu a referência de massas e se somaram inúmeros militantes devotados e voluntariosos de diversas matizes ideológicas.

É imprescindível saber de onde viemos e o que buscamos. Somos parte desta história. Somos herdeiros das lutas proletárias em todos os países. Somos frutos dos cárceres e dos martírios por toda América. Quando o PT surgiu, muitos de nós já caminhávamos nas lutas e sofríamos perseguições. Não era fácil se afirmar “petista” naqueles tempos. Mas persistimos, dedicamos anos de paciência cuidadosa para forjar o PT enquanto um referencial poderoso em meio à guerra das classes.

Quando prevaleceu o mesmo velho desencanto revisionista, na embalagem de uma suposta “nova esquerda”, preferimos sonhar e tornar o sonho possível. Sustentamos princípios e reinventamos a nós mesmos enquanto movimento de cunho marxista. Sabíamos dos riscos da pretensão auto-proclamatória, mas também sabíamos que o mais importante era o conteúdo que afirmava e não o seu rótulo.

De lá prá cá, o PT e a esquerda brasileira disputaram e conquistaram posições destacadas no âmbito da institucionalidade vigente, com alguns mandatos e governos que trouxeram as marcas da ousadia e da honestidade na gestão pública. Outros nem tanto.

Programas como o Orçamento Participativo, bolsas e medidas compensatórias ingressaram no imaginário popular como o “modo petista” de administrar. A agenda inverteu-se e perpassa a impressão que aos revolucionários restou um papel de resistência nas trincheiras dos movimentos sociais.

Resistimos às tentativas de retirada do caráter socialista original do PT, embora não se tenha avançado no que significa tal “socialismo petista”. Resistimos ao fim do direito de tendências e às expulsões esquerdistas, enquanto testemunhamos sucessivos rebaixamentos programáticos até o ápice com a “Carta aos Brasileiros” – o atestado de “bom comportamento” do campo majoritário do PT à burguesia transnacional. Resistimos ao fim dos núcleos e vimos crescer vertiginosamente a burocratização das instâncias partidárias. Resistimos à manipulação da democracia interna e observamos o império do estrelismo, do aparelhamento e da despolitização das contabilidades de “garrafinhas”. Resistimos ao afastamento das bases, dos movimentos sociais e à degeneração das práticas por setores dirigentes.

Depois de tantos embates e recuos, agora se vislumbra a contaminação da própria esquerda partidária. Mesmo onde concepções identificadas à esquerda avançaram para dentro do aparelho estatal, é preciso admitir que prevalece uma correlação de forças pró-capital, tendo havido avanços limitados para os movimentos organizados. A permissividade entre os papéis é tão grande que há hoje quem misture propositalmente a institucionalidade do Estado burguês com a dinâmica dos movimentos sociais.

Evidentemente houve avanços também. As políticas neoliberais demonstraram seus limites. Mas a crise estrutural do sistema em curso não é potencializada para um direcionamento francamente socialista. A política de acomodação conciliadora em torno de um “capitalismo humanizado” leva o governo Lula, por exemplo, a emprestar fôlego ao falido FMI, enquanto os famintos do mundo questionam o papel dos organismos multilaterais.

Parece que alguns se esqueceram do que passaram. Ou supõem que as cicatrizes do passado de combates, converteram-se num salvo-conduto agora, para se renegar a própria história, suplantada pela colheita de dividendos políticos.

Será uma mera “ingenuidade” querer fazer política “sem se sujar”? Que papel cumpre uma organização revolucionária diante da crise mundial do capitalismo? Quais desafios enfrentamos para manter o PT numa linha à esquerda?

2 comentários:

  1. Uma autocrítica é fundamental neste momento,visto que ganhar a institucionalidade burguesa não era garantia de nada...muitos de nós fomos "seduzidos" pelo dinheiro fácil e "burlável" além da "estabilidade do cargo comissionado" pela máquina politico-eleitoreira , ou seja, um acesso individual às condições financeiras se tornou um atrativo no qual esquecemos de onde vimos e o que desejávamos de uma forma coletiva para o conjunto da classe trabalhadora, ou seja, que a institucinalidade burguesa fosse um instrumento para avançarmos no aspecto de uma acesso digno às melhores condições de vida para os trabalhadores através de uma correlação de forças políticos de um modo correto para democratizarmos, mesmo sabendo que aínda não é o sistema que sonhamos mas devemos encarar que a evolução do pensamento humano nos trará a este novo momento. Coerência com o que somos e o que queremos é o ponto a ser considerado!!!!!!!!!!!

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  2. Buscarmos realmente uma nova cultura política em que os trabalhadores nos movimentos sociais devem se reconhecer como os atores sociais numa nova retomada por um novo modelo estrutural de sociedade realinhando táticas e estratégias de um modo coletivo aprofundando o debate com novas práticas que possa inserir os trabalhadores em um novo paradigma transformacional e sustentável...

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