Crítica organizativa
O balanço político real que necessitamos fazer não é apenas um acerto de contas com a nossa trajetória. É sim o balanço político da atuação da maioria da CN-TM hoje. A verdade que não se cala é que a CN-TM, enquanto operadora e orientadora da construção, inexiste. Como ignorar que não há uma política concreta de acompanhamento dos Estados? A instância é incapaz de propor uma resposta organizativa em nível nacional para superar a desarticulação regional, constituindo na prática uma federação estanque de TMs estaduais. No entanto, nos momentos eleitorais, internos ou gerais, lá estão os(as) pretensos(as) dirigentes contando as “garrafinhas”, para serem alçados aos cargos de direção em nosso nome.
Não soaria cínica a crítica correta à diluição política da TM em nome da ampliação orgânica, não fosse exatamente o processo que dirigentes da CN-TM patrocinaram no Ceará. É sintomático, portanto, que a crise de degeneração moral do PT seja qualificada como “equívocos”. Como de praxe, inserida no mesmo discurso batido de “que a esquerda não fez isso, não fez aquilo”. Passou-se muito tempo apontando a necessidade de um balanço, de um acerto de contas, não só da trajetória da TM, mas do PT e de toda esquerda e, quando finalmente ele ensaia aparecer, o que se observa é um texto pobre de conteúdo e na forma de elaboração, em menos de duas páginas!
Faz-se necessária uma maior reflexão sobre o significado de mandatos parlamentares ou executivos e sua relação com forças orgânicas ideológicas de esquerda. Os objetivos de conquistar espaços na institucionalidade sempre foram para os(as) comunistas revolucionários, não um fim em si mesmo, mas a amplificação da propaganda ideológica classista de programas avançados de reformas sociais e o uso da tribuna para denunciar o capitalismo e suas mazelas. Estas devem ser as diretrizes que um mandatário militante deve desenvolver como exemplo no PT de abnegação à causa socialista.
Mas há casos em que militantes são eleitos(as) e passam a se apresentar como autoridades públicas, posando de mais importantes do que os(as) demais integrantes. Resultam de um esforço coletivo de construção e, por vezes, supõem poder direcionar a ação da organização conforme os interesses de governo ou das ambições particulares do jogo político. Não se justifica a recusa ao centralismo democrático por qualquer razão. Tampouco é aceitável que um mandato ou estrutura de poder, seja utilizado para cooptar, intimidar militantes ou outras práticas fisiológicas e autoritárias.
A corrente, por outro lado, não pode igualmente deixar de compreender a sua responsabilidade política com os mandatos, colaborando inadvertidamente para desconstruir referências importantes. É
preciso saber construir o diálogo franco, aparar arestas, contornar conflitos e equilibrar as mediações necessárias dos limites da institucionalidade com as legítimas aspirações populares.
A verdade é que quem formulou as teses não acredita na força da concepção leninista de organização. Constata que a corrente existe “formalmente” e nada mais. Não afirma a necessidade da retomada orgânica. Pelo contrário, o que vem a seguir é a tentativa de explicar a incorporação indiscriminada da área de influência. Como saída para não parecer tão irresponsável, ao final lista um conjunto de estudos com temas vagos. Ou seja, ao invés de reforçar o empoderamento dos coletivos de base com vida efetiva e organismos dirigentes da vanguarda, aposta exatamente na diluição oportunista. Pode-se traçar um paralelo, guardadas as proporções, com o processo que levou à destituição dos núcleos do PT como elementos formadores da base partidária para o predomínio do estrelismo populista e de aparelhos burocráticos.
Para atingir seus objetivos, alguns membros da CN-TM parecem não encontrar limites: Vale passar por cima da militância ideológica histórica? Vale lançar mão de golpe na organização estadual? Vale manipular informes? Vale tentar intimidar e expulsar militantes? Vale escrever qualquer arremedo de tese “só para constar”? Vale filiação em massa de base inorgânica? Vale trair aliados? Vale falsificar delegações? E vale até virar “ecologista”?
A própria participação da TM na chapa da “esquerda do PT” no PED resulta desmoralizada por componentes da própria CN-TM. A maioria da CN-TM tem isso como uma aliança pontual e interesseira e não como a construção real de alternativa organizativa dos trabalhadores, por isso mesmo é citada vagamente nas “teses”. Segundo lideranças do bloco, no PED passado, à revelia das deliberações da CN-TM e do conhecimento da militância da TM, foi negociado às escondidas em nosso nome, com dirigentes da tendência Articulação Unidade na Luta, um acordo para compor a Executiva Nacional do PT, mesmo estando a TM formalmente na chapa “A Esperança é Vermelha”.
Se a atual CN-TM acabou desmoralizada externamente, que dirá internamente, ao se distanciar da linha ideológica e da construção de base da Tendência. A CN-TM tem sido usada e manipulada por algumas pessoas apartadas da luta política real, que se reúnem previamente às suas reuniões para “combinar” as decisões a serem tomadas, formando níveis decisórios paralelos. Inclusive se dando o direito de descumprir as deliberações tiradas, quando, por exemplo, “resolveram” inscrever apenas um nome, e não as duas candidaturas da TM no Encontro Setorial Nacional de Meio Ambiente do PT, conforme decidido na instância.
Que política de direção é essa? Não se interessam em divulgar suas resoluções. Prometem construir site na internet e não cumprem. Dizem que vão aos Estados e só visitam onde tem algum cargo para adular. Afirmam que querem construir os setoriais do PT, mas onde se elegem dirigentes sequer comparecem às reuniões. Pretendem nos representar, mas a maioria de seus/suas componentes não têm base, estão isolados(as) ou são hostilizados(as) em seus Estados de origem.
Sem meias palavras, esta ação desenvolvida por componentes da CN-TM, que hora denunciamos, tem o propósito de sabotar a organização da TM enquanto tal. Formou-se uma burocracia acomodada que quer usar o título “TM” para seus propósitos particulares. Quer ocupar cargo dirigente no Partido para reproduzir seu projeto pessoal de poder e não visando a transformação radical da ordem ou mesmo para tensionar o PT à esquerda. Quer transformar a TM num apêndice rendido da direita partidária.
A gota d'água é o processo desrespeitoso que está sendo imposto à militância da TM em sua Conferência Nacional. Depois de adiá-la inúmeras vezes, membros da CN-TM enviaram um correio eletrônico (e não publicação oficial da TM) propondo a composição das delegações nacionais por meio de “plenárias estaduais”, com base na contabilidade declarada de membros. A Resolução sobre Funcionamento Interno da TM, tirada na Conferência Nacional de 2000 e não revogada até agora, determina a realização de Conferências Estaduais com quórum.
Para não haver dúvida: isso quer dizer que a representação por Estado se dará na quantidade presumida de membros e não nas discussões oriundas dos coletivos de base. Isto é, se a Coordenação Estadual disser que são 150 integrantes, serão 15 delegados(as), se forem 300 garrafinhas, 30 delegados(as) e assim por diante: sem quórum, sem política financeira, sem obrigatoriedade de discussão política. É a “PEDalização” da TM. A desculpa: “a organização não funciona, então vamos aboli-la!”
É uma “reforma” estatutária sem constituinte, que corresponde à necessidade da inclusão à força das adesões de última hora. Não temos nada contra o crescimento da TM. Sempre tivemos um compromisso histórico com o fortalecimento da organização. É preciso separar o joio do trigo. Há sim integrações positivas de gente que se formou com simpatia por nossas idéias e práticas e há também quadros ideológicos engajados que se aproximam de nossa construção. Agora, aceitar que a TM inclua processos resultantes da manipulação massiva, sem substrato ideológico, é descaracterizar o sentido de construção da TM até aqui, enquanto agente social conscientizador e construtor das transformações radicais.
Não se trata de uma firula regimental. A Resolução de 2000 é acompanhada de um texto de fundamentação teórica leninista que sustenta, em suma, que uma política revolucionária só pode ser implementada por uma organização revolucionária, que atue segundo seus princípios e disciplina. Inversamente, uma organização somente se identifica enquanto revolucionária, se for capaz de desenvolver seus objetivos revolucionários. Fora disso pode ser grupo de amizade ou interesse, mas não é organização revolucionária. Então qual é o significado presente da TM enquanto instrumento emancipatório do povo trabalhador? O que diferencia a TM das outras correntes? É o que nos dirigimos hoje aos(às) camaradas da TM para questionar e refletir.
Muitos já se desencantaram. A maioria por não ver perspectiva. É importante restabelecer a crítica concreta, evitando-se adjetivações inúteis, visando a compreensão de conteúdo. É preciso retomar o materialismo histórico dialético contra a estagnação de pensamentos e ações. Somos produtos da rebeldia das massas proletárias contra os grilhões do capital. Nosso grito não se cala diante da canalhice da direita ou da pretensa esquerda.
Camaradas, está na hora de dar um basta nisso. Está na hora da militância no campo e nas cidades, que leva a sério a construção política de um instrumento revolucionário dos(as) explorados(as) dar um sonoro não à ação diluidora, liqüidacionista que vem tentando nos submeter. Está na hora de construir uma alternativa política ao discurso do fatalismo direitizante que quer se impor. Encarnamos a luta de resistência dos(as) que sonham com o mundo ético, justo e igualitário. Já entregamos muito sangue, suor e lágrimas por nossas bandeiras. Dedicamos nossas vidas por sonhos que, com sacrifício, um dia irão se realizar. Sacrificamos muitas vontades e “facilidades” porque somos sonhadores(as) incorrigíveis. Queremos superar a mera sobrevivência. Queremos viver, com dignidade, honestidade e caráter! Nós, revolucionários comunistas, somos donos(as) de uma vontade inexorável: não aceitamos o abandono dos princípios originais que sustentam nossa construção até hoje. A organização pode até se adaptar a novas condições, mas nunca deixará de sê-la pela Revolução e pelo Socialismo.